4 de fevereiro de 2009

Para desenvolver competências profissionais

A formação continuada não pode ser pensada como geralmente ocorre: fragmentada, às vezes desenvolvida em apenas dois momentos ao longo do ano. Situação freqüente: a Secretaria de Educação contrata algumas pessoas, às vezes muito competentes, para ministrar cursos, seminários, oficinas... Elas trazem/levam algumas idéias interessantes para os professores, que às vezes se empolgam e resolvem colocá-las em prática. Mas, na primeira dúvida que surge, o professor percebe que não tem com quem refletir sobre essas dúvidas, com quem compartilhar suas angústias, dificuldades, incertezas e às vezes até mesmo as suas convicções. Então, como essa formação poderia ser considerada continuada, se todas as vezes que, durante o ano, o professor necessita de alguma orientação, nunca sabe a quem recorrer ou com quem dialogar sobre suas questões em relação à prática pedagógica? Na verdade, nesse caso, ele tem vivenciado uma formação descontinuada. Por isso a necessidade de recolocar as coisas nos seus devidos lugares, atribuindo-lhes o devido significado. Mas que significado, ou o que ressignificar?
Ressignificar a formação tanto inicial quanto a continuada. Esta deve acontecer de modo contínuo, a fim de que os professores possam se atualizar, tirar suas dúvidas, refletir sobre as situações de aprendizagem em suas salas de aula. Mas isso parece tão simples! É... parece simples. Mas, assim como o óbvio nem sempre é percebido, o simples na maioria das vezes não é aceito. Afinal, pensam os “entendidos”: como resolver um problema tão complexo, como é a precariedade da educação brasileira, com medidas tão simples como a organização de grupos de estudos de professores? Evidentemente, essa não é a única medida necessária para a superação dessa realidade. Existem outras tantas medidas fundamentais... mas tenho certeza de que são muito mais simples do que parecem. Regina Cabral

A defesa da idéia de competência profissional como capacidade de mobilizar recursos e conhecimentos, para responder aos diferentes desafios colocados pelo exercício da profissão – ou seja, para responder às questões inerentes à prática, identificar e resolver problemas, pôr em uso o conhecimento e os recursos disponíveis – implica, necessariamente, a defesa de um modelo de formação que garanta o desenvolvimento progressivo das competências que se espera dos profissionais. Um modelo de formação que tome o desenvolvimento de competências profissionais como princípio e como meta terá que desdobrá-los em pressupostos, objetivos, conteúdos e metodologias compatíveis e coerentes.

Seguem transcritos abaixo trechos dos Referenciais para a Formação de Professores,4 que indicam pressupostos e objetivos colocados à formação inicial e continuada (respectivamente, páginas 18 e 82), decorrentes da opção por um modelo pautado no desenvolvimento de competências profissionais dos professores.

Pressupostos orientadores da formação de professores

• O professor exerce uma atividade profissional de natureza pública, que tem dimensão coletiva e pessoal, implicando simultaneamente autonomia e responsabilidade.
•O desenvolvimento profissional permanente é necessidade intrínseca à sua atuação e, por isso, um direito de todos os professores.
• A atuação do professor tem como dimensão principal a docência, mas não se restringe a ela: inclui também a participação no projeto educativo e curricular da escola, a produção de conhecimento pedagógico e a participação na comunidade educacional. Portanto, todas essas atividades devem fazer parte da sua formação.
• O trabalho do professor visa ao desenvolvimento dos alunos como pessoas, nas suas múltiplas capacidades, e não apenas à transmissão de conhecimentos. Isso implica uma atuação profissional não meramente técnica, mas também intelectual e política.
• O necessário compromisso com o sucesso das aprendizagens de todos os alunos na creche e nas escolas de educação infantil e do ensino fundamental exige que o professor considere suas diferenças culturais, sociais e pessoais e que, sob hipótese alguma, as reafirme como causa de desigualdade ou exclusão.
• O desenvolvimento de competências profissionais exige metodologias
pautadas na articulação teoria-prática, na resolução de situações problema e na reflexão sobre a atuação profissional.
• A organização e o funcionamento das instituições de formação de professores são elementos essenciais para o desenvolvimento da cultura profissional que se pretende afirmar. A perspectiva interinstitucional – de parceria e cooperação entre diferentes instituições – também contribui decisivamente nesse sentido.

• O estabelecimento de relações cada vez mais estreitas entre as instituições de formação profissional e as redes de ensino é condição para um processo de formação de professores referenciado na prática real.
• Os projetos de desenvolvimento profissional só terão eficácia se estiverem vinculados a melhorias nas condições de trabalho, carreira e salário e a processos de avaliação.


Objetivos gerais das ações de formação de professores

Conforme define Perrenoud: 5
• As competências não são, elas mesmas, saberes, savoir-faire ou atitudes, mas mobilizam, integram e orquestram tais recursos.
• Essa mobilização só é pertinente em situação, sendo cada situação singular, mesmo que se possa tratá-la em analogia com outras já encontradas.
• O exercício da competência passa por operações mentais complexas, subentendidas por esquemas de pensamento, que permitem determinar (mais ou menos consciente e rapidamente) e realizar (de modo mais ou menos eficaz) uma ação relativamente adaptada à situação.
• As competências profissionais constroem-se em formação, mas também, ao sabor da navegação diária do professor, de uma situação de trabalho à outra.

Segundo o autor, são dez as "famílias de competências" necessárias aos professores:

1- organizar e dirigir situações de aprendizagem;
2- administrar a progressão das aprendizagens;
3- conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; 6
4- envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5- trabalhar em equipe;
6- participar da administração da escola;
7- informar e envolver os pais;
8- utilizar novas tecnologias;
9- enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10-administrar sua própria formação contínua.

A análise da natureza dessas competências permite verificar que, de modo geral, elas demandam do professor:

• análise da realidade (que é o contexto da própria atuação);
• planejamento da ação a partir da realidade à qual a ação se destina;
• antecipação de possibilidades que permitam planejar algumas intervenções com antecedência;
• identificação e caracterização de problemas (obstáculos, dificuldades,
distorções, inadequações...);
• priorização do que é relevante para a solução dos problemas identificados e autonomia para tomar as medidas que ajudam a solucioná-los;
• busca de recursos e fontes de informação que se mostrem necessários;
• compreensão e atendimento da diversidade;
• disponibilidade para a aprendizagem;
• trabalho em colaboração de fato;
• reflexão sobre a própria prática;
• uso da leitura e escrita em favor do desenvolvimento pessoal e profissional.7

Tomando essas idéias como pressupostos, os Referenciais de Formação de Professores indicam como objetivos das ações de formação inicial e continuada de professores o desenvolvimento progressivo das seguintes competências profissionais:


• Pautar-se por princípios da ética democrática: dignidade humana, justiça, respeito mútuo, participação, responsabilidade, diálogo e solidariedade, atuando como profissionais e como cidadãos.
• Utilizar conhecimentos sobre a realidade econômica, cultural, política e social brasileira para compreender o contexto e as relações em que está inserida a prática educativa.
• Orientar suas escolhas e decisões metodológicas e didáticas por princípios éticos e por pressupostos epistemológicos coerentes.
• Gerir a classe e a organização do trabalho, estabelecendo uma relação de autoridade e confiança com os alunos.
• Analisar situações e relações interpessoais nas quais estejam envolvidos com o distanciamento profissional necessário à sua compreensão.
• Intervir nas situações educativas com sensibilidade, acolhimento e afirmação responsável de sua autoridade.
• Investigar o contexto educativo na sua complexidade e analisar a prática profissional, tomando-a continuamente como objeto de reflexão para compreender e gerenciar o efeito das ações propostas, avaliar seus resultados e sistematizar conclusões de forma a aprimorá-las.
• Promover uma prática educativa que leve em conta as características dos alunos e da comunidade, os temas e necessidades do mundo social e os princípios, prioridades e objetivos do projeto educativo e curricular.
• Analisar o percurso de aprendizagem formal e informal dos alunos, identificando características cognitivas, afetivas e físicas, traços de personalidade, processos de desenvolvimento, formas de acessar e processar conhecimentos, possibilidades e obstáculos.
• Fazer escolhas didáticas e estabelecer metas que promovam a aprendizagem e potencializem o desenvolvimento de todos os alunos, considerando e respeitando suas características pessoais, bem como diferenças decorrentes de situação socioeconômica, inserção cultural, origem étnica, gênero e religião, atuando contra qualquer tipo de discriminação ou exclusão.
• Atuar de modo adequado às características específicas dos alunos, considerando as necessidades de cuidados, as formas peculiares de aprender, desenvolver-se e interagir socialmente em diferentes etapas da vida.
• Criar, planejar, realizar, gerir e avaliar situações didáticas eficazes para a aprendizagem e para o desenvolvimento dos alunos, utilizando o conhecimento das áreas a serem ensinadas, das temáticas sociais transversais ao currículo escolar, bem como as respectivas didáticas.
• Utilizar diferentes e flexíveis modos de organização do tempo, do espaço e de agrupamento dos alunos para favorecer e enriquecer seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.
• Manejar diferentes estratégias de comunicação dos conteúdos, sabendo eleger as mais adequadas considerando a diversidade dos alunos, os objetivos das atividades propostas e as características dos próprios conteúdos.
• Analisar diferentes materiais e recursos para utilização didática, diversificando as possíveis atividades e potencializando seu uso em diferentes situações.
• Utilizar estratégias diversificadas de avaliação da aprendizagem e, a partir de seus resultados, formular propostas de intervenção pedagógica, considerando o desenvolvimento de diferentes capacidades dos alunos.
• Participar coletiva e cooperativamente da elaboração, gestão, desenvolvimento e avaliação do projeto educativo e curricular da escola, atuando em diferentes contextos da prática profissional além da sala de aula.
• Estabelecer relações de parceria e colaboração com os pais dos alunos, de modo a promover sua participação na comunidade escolar e uma comunicação fluente entre eles e a escola.
• Desenvolver-se profissionalmente e ampliar seu horizonte cultural, adotando uma atitude de disponibilidade para a atualização, flexibilidade para mudanças, gosto pela leitura e empenho na escrita profissional.
• Elaborar e desenvolver projetos pessoais de estudo e trabalho, empenhando-se em compartilhar a prática e produzir coletivamente.
• Participar de associações da categoria, estabelecendo intercâmbio com outros profissionais em eventos de natureza sindical, científica e cultural.
• Utilizar o conhecimento sobre a legislação que rege sua atividade profissional.
Como dissemos, competências profissionais desse tipo não são desenvolvidas pelo simples contato com a informação: saber quais são as necessárias competências para o exercício da profissão não basta a nenhum indivíduo, pois elas demandam decisões, procedimentos e atitudes que não dependem unicamente do acesso à informação. A possibilidade de pôr em uso o conhecimento disponível para atuar contextualmente é algo que depende de um processo de construção singular do "saber fazer" – uma construção que é conceitual, procedimental e atitudinal. É nesse sentido que a formação profissional
deve se orientar.

Notas
4 Documento publicado pela SEF/MEC em 1998.

5 Philippe Perrenoud, Dez novas competências para ensinar, Editora ARTMED, 2000.

6 Este item refere-se especialmente ao trabalho com a heterogeneidade dos alunos e com o atendimento de suas necessidades de aprendizagem.

7 As idéias tratadas até então neste Capítulo estão também expressas em dois documentos de circulação interna da SEF/MEC, no âmbito da Rede Nacional de Formadores: "A Dimensão Pedagógica do Programa Parâmetros em Ação" e "A Natureza da Assessoria no Programa Parâmetros em Ação", ambos produzidos em julho de 2000.
Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Guia de Orientações Metodológicas Gerais. 2001. p. 21-24.

2 de fevereiro de 2009

Atividade Interativa

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