Temos um desafio muito grande: formar formadores competentes capazes de identificar e valorizar os saberes que seus professores possuem e não somente sujeitos capazes de transmitir conhecimento, repassar saberes. Desafio de formar sujeitos que sejam capazes de ler a necessidade de seu grupo, de selecionar material adequado para buscar a solução de problemas que deverão enfrentar e não apenas sujeitos capazes de reproduzir as atividades propostas no material do programa. Desafio de formar pessoas críticas, capazes de ler nas entrelinhas e de assumir uma posição própria, que interajam, ao invés de persistir em formar indivíduos dependentes de regras, normas, cartilhas.
O desafio é formar pessoas desejosas de penetrar no mundo da educação, dispostas a identificar-se com o parecido ou solidarizar-se com o diferente. Assumir este desafio significa abandonar as atividades mecânicas e posicionar-se como parceiro, co-produtor.
O desenvolvimento de competências de formador de professores e de uma cultura profissional própria depende de um processo de formação continuada dos educadores, que passam a assumir essa função. Todo profissional que assume novas tarefas tem o direito e o dever de preparar-se para desempenhá-las. Como em geral não contamos no país com cursos de formação inicial de formadores, as competências de formador, na maior parte dos casos, serão desenvolvidas em serviço, ou seja, com os profissionais no exercício da função.
Essa circunstância fortalece o direito de esses profissionais contarem com condições institucionais para se qualificarem adequadamente, o Situações de desenvolvimento profissional que depende, entre outros aspectos, da existência de um grupo de interlocução que tome a reflexão sobre a prática de formador, o estudo e a documentação do trabalho como as principais estratégias de formação.
Tomando como bandeira o trabalho coletivo, disse o educador russo Anton Makarenko:"Não imaginei nem imagino como se poderia educar um coletivo, pelo menos um coletivo infantil, se não houver um coletivo de educadores. Não há dúvidas de que não se poderá fazê-lo se cada um dos educadores de uma escola realiza, separadamente,o seu trabalho educativo, segundo seu próprio entendimento e desejo."
Pois podemos perfeitamente transpor esse pressuposto para a condição de formador, parafraseando-o:
"Não imaginamos – nem poderíamos imaginar – como formar adequadamente um coletivo, pelo menos um coletivo de educadores, se não houver um coletivo de formadores. Não há dúvidas de que não se poderá fazê-lo se cada um dos formadores de uma instituição realiza, individualmente, o seu trabalho segundo seu próprio entendimento e desejo, baseado apenas em recursos pessoais para realizá-lo."
A construção de competências de formador depende de duas condições fundamentais: a possibilidade de refletir sobre a prática e de ampliar o universo de conhecimentos. Essas questões passam a ser abordadas a seguir.
Os espaços e as possibilidades de reflexão sobre a prática de formador são abordados a seguir, especialmente na forma de depoimentos dos educadores que se dispuseram a relatar suas experiências e compartilhar seus saberes experienciais. Os itens em torno dos quais esses depoimentos se articulam são os seguintes:
• o grupo como espaço de aprendizagem e de reflexão coletiva;
• o apoio dos parceiros;
• a observação do outro em atividade:
- estágio
- análise de situações documentadas em vídeo
• o planejamento conjunto do trabalho;
• a realização do trabalho em parceria;
• a reflexão por escrito;
• a correspondência:
- comunicação pela Internet.
A experiência tem mostrado – e todos os relatos dos formadores confirmam – que o desenvolvimento das competências profissionais de um educador passa necessariamente pela interação com o outro. É certo que a reflexão sobre a prática e a ampliação do universo de conhecimentos (condições para a construção e ampliação das competências) dependem do empenho pessoal de cada um, mas é igualmente certo que o intercâmbio com os pares é o maior aliado nesse sentido.
Por mais competentes que sejamos, o que mais enriquece um educador é a possibilidade de estudar, planejar e coordenar um trabalho em parceria. Não há nada mais gratificante do que a solidariedade e a cooperação, tanto no nível pessoal como profissional. Rosa Maria Antunes de Barros
É possível que os participantes de um grupo formem-se mutuamente, mesmo que nenhum deles desempenhe o papel de formador dos demais. "Basta que se envolvam em uma tarefa cooperativa que provoque conflitos e favoreça a evolução das representações,dos conhecimentos,dos métodos de cada um,por meio do confronto com outras maneiras de ver e de agir. O confronto dos pontos de vista estimula uma atividade ‘metacognitiva’ da qual todos extraem um benefício […]" (Perrenoud, 2000)
No entanto, é necessário que a tarefa a que o grupo se dedica "imponha" a necessidade de uma verdadeira cooperação, isto é, funcione como um dispositivo que obrigue o grupo a trabalhar cooperativamente – uma tarefa que, para ser realizada, dependa, de fato, da participação e da complementaridade da ação de todos os envolvidos.
O desenvolvimento de uma cultura de cooperação, de aprendizagem em parceria e de trabalho coletivo é necessário em qualquer grupo que se pretende formativo, pois disso depende o fortalecimento de relações de solidariedade, respeito mútuo, tolerância e aceitação da diversidade – uma exigência do convívio social e da formação de educador e uma condição para o crescimento pessoal. Além do que, um grupo cooperativo é também um contexto de aprendizagem porque favorece a exposição dos próprios conhecimentos, concepções, opiniões e idéias: como sabemos um dos obstáculos à aprendizagem é o não-reconhecimento, pelo indivíduo, da sua capacidade pessoal e do valor de seus conhecimentos e experiências.
O apoio dos parceiros
A iniciação de todo indivíduo na profissão ou em novas funções, que passa a assumir ao longo de sua trajetória profissional,não precisa ser um processo doloroso, como muitas vezes ocorre no campo da educação. Com o apoio de colegas que desempenham o papel de parceiros experientes ou simplesmente de interlocutores, é possível assumir as tarefas que se colocam de forma "assistida", o que contribui para a segurança pessoal e, certamente, para melhores resultados no trabalho.
O que se pode verificar nos relatos que compõem este livro é que é possível criar uma cultura de parceria e solidariedade entre os profissionais que exercem as mesmas funções – no caso, os formadores de professores – e que é importante difundi-la como uma conquista e um valor que precisam ser preservados.
Atualmente, quando inicio o trabalho nos grupos, tenho lido trechos da Odisséia, focando a narrativa dos acontecimentos que antecederam a volta de Ulisses, vitorioso na batalha de Tróia, rumo a Ítaca, local em que era rei. Sem saber dos perigos e aventuras que o aguardavam até sua chegada. Porque todo grupo é para mim uma deliciosa aventura, que carrega medos e coragens – e neste percurso, nossos parceiros mais experientes são de grande valia. No início do meu trabalho de formadora, Rosana assumiu comigo esse papel, à medida que exercitou a sua escuta atenta e acolhedora, compartilhou hipóteses, evidenciou dúvidas e "certezas" que permeiam todo processo de formação, forneceu indicação bibliográfica para aprofundamento dos meus estudos.
Penso que o bom formador é aquele que acolhe o grupo, a idealização deste, e consegue desmistificar e apontar caminhos para o exercício da autonomia profissional. Foi crucial na minha atuação ter a oportunidade de iniciar minha trajetória no Programa, tendo como referência esse modelo adequado, que motivou a ousadia. Rosa Silvia Lopes Chaves
Quando preciso faltar às reuniões dos formadores – pois como sou também professora, isso às vezes acontece – sei o quanto estou perdendo. E lamento muito. Além do intercâmbio produtivo que sempre ocorre nessas reuniões, geralmente a partir das experiências relatadas, se discutem formas alternativas de abordar determinados conteúdos, o que é uma contribuição fundamental para todo formador.
A reunião que aqui vou relatar teve como objetivo discutir com coordenadoras de grupos de formação de professores formadores quais as dificuldades que estavam encontrando para o desenvolvimento do projeto Parâmetros em Ação e também as conquistas que têm alcançado.
Os depoimentos foram os seguintes:
• Falta de sensibilização do grupo: as pessoas não sabem o que estão fazendo lá.
• Foi difícil formar o grupo de formadores. Há uma deficiência na leitura.
Existe uma disponibilidade maior do grupo do interior (24 formadores são da capital e 18 são do interior).
• Há dificuldade em diagnosticar do que os professores formadores estão precisando mais (com relação aos conteúdos)
• Não sabe se o que falta é um pouco mais de compromisso, mas com certeza falta estudo. Algumas pessoas do grupo não se sentem seguras para trabalhar com formação de professores.
• Estamos conquistando o grupo. É necessário conquistar as pessoas, encontrar formas de trazê-las para trabalhar com empenho e dedicação.
• É necessário planejar e registrar o trabalho realizado pelos outros módulos para se ter um acompanhamento total do trabalho.
• Precisamos ter cuidado com o emprego de alguns termos: por exemplo, o grupo não tinha claro o que era intervenção pedagógica.
• Como estabelecer uma relação afetuosa com as pessoas de um grupo com quarenta? Quais as dinâmicas; quais os chamados?
Após as colocações, teci algumas considerações sobre o que foi dito, como contribuição:
• Antecipar as questões que o grupo possa vir a ter, para se promover uma intervenção consciente e não simplesmente ficar na posição de "bombeiro" ou "malabarista". Uma vez antecipadas as questões, é possível interferir com mais consistência já que a intervenção pode ser planejada previamente, evitando um tratamento mais improvisado das questões trazidas pelo grupo.
• Tratar as informações para o grupo de uma maneira diferenciada, procurando atender aos diferentes níveis de compreensão que as pessoas têm sobre o assunto que esteja sendo discutido.
• É essencial elaborar um planejamento para cada Encontro e também fazer um registro das metodologias que podem ser boas para o trabalho com todos os módulos, para que dessa forma se construa efetivamente um "projeto de formação".
• Prestar bastante atenção no que não deu certo, pois isso pode se tornar tema de discussão. Buscar as bases teóricas para se entender por que determinadas estratégias não funcionaram.
• Para que o Programa seja bem-sucedido, é importante que haja uma relação afetiva estável dentro do grupo (o que parece já estar ocorrendo) e que se desenvolvam posturas de estudo (como leitores críticos). Essas posturas de vem estar presentes no trabalho com todos os módulos.
Essas considerações geraram boas discussões com o grupo de coordenadoras. Elas consideraram contribuições pertinentes para o momento que estavam vivendo, para instrumentalizá-las no planejamento dos próximos Encontros, assim como para a formação do próprio grupo – tanto no que se refere à construção de uma linguagem comum, que passa necessariamente pela discussão das concepções que cada uma tem dos conteúdos dos módulos, como do significado do trabalho de formação dos professores formadores e dos professores que estão em sala de aula.
Para concluir, abordei a importância do trabalho de formação ser intencionalmente organizado como um projeto coletivo, em oposição às inconseqüentes ações improvisadas. O projeto deve ser visto como um conjunto de princípios para orientar as ações e a tomada de decisões e para organizar a história do grupo – sabendo que, para "oxigenar" esse projeto é imprescindível a reflexão do formador, tanto em grupo como individual. Rosana Dutoit
Aos formadores que desenvolvem assessoria e apoio metodológico ao trabalho de coordenadores de grupo e professores, cabe acompanhar o andamento dos grupos, trazer experiências significativas desenvolvidas
em outros lugares, favorecer o contato entre educadores de diferentes grupos e escolas, além de ações como as seguintes:
• discussão do planejamento e realização de atividades;
• contribuição à identificação de problemas e à antecipação de soluções;
• proposição de medidas e estímulo para o adequado desenvolvimento dos trabalhos;
• discussão de formas de gestão de conflitos e de soluções de consenso;
• reflexão sobre o percurso de aprendizagem do grupo, tendo como base os registros que documentam o processo de discussão, as sínteses conclusivas, as propostas etc.;
• orientação e acompanhamento da análise das produções do grupo;
• incentivo à publicação e à socialização das produções do grupo;
• estímulo à circulação de informação e à comunicação entre educadores de diferentes lugares, seja por contato direto ou por meio de recursos de comunicação a distância. Walter Takemoto
A observação do outro em atividade
Por certo, a simples observação da conduta do outro não nos ensina tudo o que é necessário para procedermos adequadamente como formadores. Afinal, competências profissionais não se constroem por imitação. Mas quando o profissional tem sua própria experiência e busca na conduta do outro elementos para aprender a atuar cada vez melhor e a refletir sobre a prática de formador, então a observação pode contribuir bastante para a sua aprendizagem e para a ampliação do repertório de procedimentos adequados ao trabalho. Como se sabe, os procedimentos são conteúdos aprendidos principalmente na prática: é ao fazer que aprendemos como fazer. Nesse processo, o papel do parceiro experiente é determinante para o domínio de procedimentos, por três razões principais: porque pode explicar detalhadamente o que deve ser feito com antecedência, porque pode servir de modelo de referência para o aprendiz e porque pode refletir com ele o que foi feito.
O trabalho de formação em parceria é muito interessante, pois favorece a análise das ações desenvolvidas a partir do ponto de vista de um outro formador.
Esse trecho de relatório refere-se ao trabalho desenvolvido com os coordenadores de grupo, em parceria com Laura, formadora de Artes Visuais do Grupo da Educação Infantil.
Enquanto Laura desenvolvia o módulo, preocupei-me em anotar os procedimentos metodológicos que ela estava utilizando, para que pudesse evidenciá-los para o grupo, focalizando a importância de cada um deles.
Além disso, procurei intervir quando a informação parecia não ter ficado clara para os participantes do grupo ou quando julgava insuficiente alguma explicação. Para realizarmos essa parceria, fizemos um planejamento e combinamos o papel de cada uma durante o trabalho, com a intenção de evitar atropelos e desencontros. Ao final de cada dia de atividade, avaliávamos nossa atuação e replanejávamos o encontro seguinte.
Na nossa divisão de tarefas, Laura ficou responsável pelo tratamento do conteúdo do eixo curricular Artes Visuais, e eu pela observação da forma como ela os desenvolveria, ou seja, atenta em anotar e analisar as estratégias utilizadas para a formação dos coordenadores, para que, ao finalizar cada dia de trabalho pudesse discuti-las, explicitando as concepções que as sustentam.
Com relação aos procedimentos metodológicos pontuei alguns, que foram os seguintes:
1. A organização do espaço físico (na ocasião, foi feita a proposta de expor os trabalhos realizados, organizando-se uma exposição e também a bibliografia indicada).
Ressaltei para o grupo a importância de se organizar um espaço favorável à aprendizagem, seja ele destinado à formação dos professores ou dos alunos na sala de aula e/ou escola.
"Nos processos de ensino e de aprendizagem, o espaço físico disposto pelo educador possui duas funções. Proporciona o lugar para a aprendizagem e, ao mesmo tempo, atua como participante no ensino e na aprendizagem."
Há, portanto, uma relação direta entre organização do espaço físico, aprendizagem e construção de condutas por parte do professor/aluno.
2. Situar os objetivos do Programa Parâmetros em Ação.
Observei que essa informação é importante porque localiza a amplitude do projeto e contextualiza a ação tanto dos participantes do grupo como dos formadores.
3. Apresentação dos objetivos do trabalho.
Essa apresentação é necessária porque se compartilha com os coordenadores de grupo o que vai acontecer no dia de trabalho, além de favorecer que o grupo se comprometa, por meio de posturas e engajamento pertinentes, com o alcance dos objetivos propostos.
4. Expectativa de aprendizagem. Explicita o que se espera que aprendam e desenvolvam com o trabalho.
5. Leitura do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
Marca esse material como referência para estudos e discussões.
6. Estratégias metodológicas utilizadas no encontro:
Fazer (produção artística)/Ler/Discutir/Organizar informações/Registrar.
É importante considerar que para diferentes conteúdos utilizamos diferentes estratégias. A eleição de uma ou de outra depende do objetivo que se pretende alcançar e da natureza do conteúdo trabalhado.
Finalizei com a exposição de alguns itens, ainda referentes à formação de educadores. No trabalho de formação é preciso:
• considerar quais são os conhecimentos prévios dos educadores;
• identificar quais são os sujeitos que compõem o coletivo;
• potencializar os saberes individuais;
• discutir os pressupostos teóricos que determinam esses saberes;
• problematizar;
• buscar soluções coletivamente;
• utilizar o conhecimento teórico como fonte de informação para interpretar a prática;
• interpretar a prática e reorganizá-la;
• apropriar-se da prática e do processo de construção do projeto educacional – autoria;
• elaborar sínteses periódicas;
• promover a socialização das práticas individuais.
Além disso, foi fundamental evidenciar, para as coordenadoras de grupo, a interação que está na base do trabalho de formação e reafirmar que ela supõe conflitos, confrontos de pontos de vista, concepções etc., que devem ser previstos, na medida do possível. É preciso criar condições de emocionalidade, cujos vínculos sejam reais, entre coordenador e professores, gerando assim um
clima de segurança e confiança.
Outro aspecto que mereceu ser tratado foi a da parceria mais experiente. O coordenador do grupo, pela própria função que ocupa, é colocado no lugar de parceiro mais experiente, porém vale esclarecer que nem sempre isso é real.
A depender do assunto a ser tematizado, é importante reconhecer no grupo quem é o parceiro mais experiente, que poderá socializar suas experiências e seu entendimento sobre o conteúdo apresentado.
Cabe ainda ao coordenador de grupo refletir sobre a importância do comportamento ético, do respeito ao conhecimento do outro e do compromisso com o planejamento. Afinal, como coloca Makarenko: "Não podemos simplesmente educar um homem, não temos o direito de realizar um trabalho educacional, quando não temos frente aos olhos um objetivo político determinado. Um trabalho educativo que não persegue um meta detalhada, clara e conhecida em todos os seus aspectos, é um trabalho educativo apolítico." Rosana Dutoit
Certa ocasião, desenvolvi um trabalho com coordenadores de grupo do Parâmetros em Ação, em que parte da turma conhecia apenas os Módulos de 1ª a 4ª série e parte da turma apenas o Módulo de Alfabetização. Meu papel era ajudá-los a socializar para os outros o que já sabiam sobre os módulos e os demais desconheciam e aprofundar as discussões que se mostrassem necessárias para o grupo.
3. Organização dos grupos para a realização das atividades.
Foi necessário discutir com eles a importância de conhecer o mais possível o que pensam os participantes do grupo, para que se possa levar suas questões em conta, no decorrer dos trabalhos (para tematizar isso, usei como referência a própria situação que estávamos vivendo).
Sugeri que escrevessem num cartaz as respostas de cada grupo dadas às questões propostas para discussão, uma vez que não havia lousa na sala (e a inexistência de registro dificultaria a reflexão após algum tempo).
E enfatizei o quanto era fundamental circular pela sala e acompanhar o trabalho dos subgrupos, o que favorece conhecer o que pensam as pessoas que nem sempre se colocam nas discussões do grupão.
4. Antecipação de respostas.
Mostrei que as discussões mais ricas foram aquelas em que os grupos se prepararam previamente, antecipando as respostas que poderiam ser dadas pelos colegas e/ou as questões que provavelmente colocariam.
Essa competência de antecipar possibilidades é fundamental para preparar boas intervenções – quanto mais conhecemos o sujeito da formação, mais se torna possível esse tipo de antecipação.
5. Uso dos vídeos.
Discutimos que:
• durante os Encontros, deveriam evitar ficar com o livro nas mãos, pois isso poderia dar a impressão de que estavam inseguros, precisando consultar a todo instante o que está indicado no módulo;
• seria bom explicitar para os professores o contexto em que os vídeos foram produzidos;
•é muito importante apresentar e trabalhar com os vídeos de uma forma sedutora e convidativa;
• as pausas e intervenções propostas no Módulo de Alfabetização são sugestões que podem sofrer alterações conforme a necessidade.
Foi uma experiência muito rica para eles e para mim, porque a minha tarefa era ajudá-los a preparar as atividades que desenvolveriam, eles próprios, com os demais e, dessa forma, pude avaliar o tempo todo como procediam no papel de formadores – e depois socializar com eles as minhas observações.
A seguir, transcrevo algumas dessas observações:
1. Coordenação em dupla.
O entendimento que tiveram é que duas pessoas deveriam realizar a atividade juntas, simultaneamente. Ficava difícil para os participantes do grupo centrar a atenção em um dos coordenadores, pois eles estavam em cena ao mesmo tempo. Discutimos, então, como deve ser a divisão de tarefas numa situação como essa e qual o papel do parceiro, quando o outro coordenador está encaminhando os trabalhos.
2. Equilíbrio entre o tratamento dos conteúdos e das estratégias metodológicas.
Durante as atividades de simulação, os primeiros grupos estavam mais preocupados com o conteúdo – em demonstrar o que sabiam a respeito – do que com as estratégias metodológicas. Ao longo do trabalho, fomos conversando sobre o papel e o significado desses dois elementos, quando se está em um grupo de formadores. A discussão metodológica da formação, em geral, não faz sentido no trabalho com os professores, mas tem enorme
Perguntas dos coordenadores para o grupo.
Sugeri que, sempre que possível, antecipassem as perguntas, pois, devido à ansiedade, colocavam as respostas nas próprias perguntas que faziam.
E fiz com que prestassem atenção no seguinte: quando ouviam a resposta do grupo, a pergunta seguinte do coordenador geralmente era "Todos concordam?". E, nesse momento, o silêncio era total. Propus que modificassem a pergunta para "O que vocês acham da resposta dada pela colega?" Isso favoreceu a discussão – parece ser a mesma coisa, mas é completamente diferente, como a prática confirmou.
Perguntas do grupo para os coordenadores
Havia uma ansiedade de o coordenador responder às perguntas. Sugeri que as devolvessem para os grupos, para que todos pudessem se comprometer com a busca de respostas. Isso também poderia ser uma estratégia para que eles mesmos tivessem mais tempo para elaborar a resposta de forma adequada.
Muitos dos aspectos que apontei para o grupo também foram aprendizados para mim e contribuíram para a reflexão sobre a minha própria prática.
Isso só vem confirmar o quanto o formador pode aprender observando a atuação dos participantes do grupo, principalmente quando estão no papel de coordenadores.
Rosa Maria Antunes de Barros
O curto espaço de tempo é uma reclamação constante nas avaliações dos Encontros que temos realizado. Nem os grupos mais comprometidos com a pontualidade nos horários consideram satisfatório o tempo destinado aos trabalhos nos grupos. De minha parte, no entanto, sinto que andei me perdendo no tempo, em certos locais. Acabei, por conta disso, contribuindo para que as atividades de simulação fossem bastante corridas, sem o devido preparo. Ao assistir à Aricélia coordenando um grupo em Cuiabá, percebi que eu não venho dando tanta ênfase ao tempo das atividades no contrato didático. E que talvez seja essa ação tão simples que eu tenha de reforçar.
Alice de La Rocque Romeiro