28 de abril de 2009

Estudo





Como sabemos, o estudo requer um tipo de leitura específica: a leitura em busca do maior conhecimento possível oferecido pelo texto escrito.
Embora os textos estudados no trabalho de formação certamente decorram de algum tipo de discussão sobre seu conteúdo,ou desencadeiem essa discussão, eles são produzidos para "ensinar por si mesmos". Há dois tipos de texto destinados ao estudo mais recorrentes tanto no Programa Parâmetros em Ação quanto no Programa de Formação de Professores Alfabetizadores: o texto expositivo e o texto instrucional.
O texto expositivo é aquele por meio do qual o autor se propõe a ensinar conteúdos (geralmente conceituais) para um suposto leitor que os desconhece ou deles sabe pouco. O que chamamos genericamente de textos teóricos são textos expositivos: nesse caso, o esforço do autor é expor um tema de forma que o leitor o compreenda apenas com a leitura, mesmo que esta tenha que ocorrer várias vezes. O texto instrucional é aquele por meio do qual o autor se propõe a orientar a ação, o procedimento do leitor: os módulos de atividades de formação dos dois programas acima mencionados são instrucionais.Tanto em um caso como no outro, esses textos geralmente não falam por si mesmos com uma única leitura: é preciso estudá-los.
Quando se trata de textos que abordam conteúdos conceituais complexos, é fundamental que, durante a leitura, os educadores possam contar com uma orientação de estudo como apoio. Além disso, quanto mais difícil for a leitura, mais necessário se torna que o formador faça uma certa propaganda do texto e "do que se ganha" com ele. Uma péssima estratégia é entregar o texto supondo que, por ser uma tarefa reconhecidamente importante, a leitura deverá ser feita por todos, independentemente de qualquer comentário prévio a respeito, pelo simples fato de que o cumprimento das tarefas combinadas é parte do contrato didático do grupo. Pior ainda é entregar muitos textos ou indicar muitos livros ao mesmo tempo, sem sugerir uma ordem de prioridade para a leitura: a condição de parceiro experiente coloca ao formador a tarefa de ajudar os participantes de seu grupo a selecionar e seqüenciar suas leituras em função das necessidades mais imediatas (deles próprios e do andamento dos trabalhos do grupo).
Se a constatação é de que os professores lêem pouco,30 principalmente os textos teóricos, então é preciso desafiá-los para que melhorem essa sua atitude, pois isso faz parte do processo de formação profissional: não se pode ser demasiado exigente em relação à leitura deles, tampouco complacente com a sua não-leitura.
Uma das estratégias que têm sido mais eficazes nos trabalhos de formação é a indicação comentada da leitura proposta:nesse momento,o formador conversa sobre o texto, explicita os principais conteúdos nele abordados, relaciona esses conteúdos com o que vem sendo tratado no grupo e com a prática pedagógica, enfatiza as vantagens que ele oferece do ponto de vista pessoal e/ou profissional...
Na verdade, o trabalho com a Leitura Compartilhada de textos literários é também uma forma indireta de contribuir para ampliar o interesse e o compromisso do educador com as leituras de um modo geral e, conseqüentemente, com o estudo de textos de aprofundamento.
A expectativa é que a sedução pela literatura possa reverter, de alguma forma, em benefícios para a formação do leitor em muitos aspectos, e não apenas o gosto pela própria literatura e o interesse em desbravá-la.
Quanto aos textos instrucionais, é importante ressaltar uma questão: a representação que geralmente temos do que seja estudar não pressupõe estudar procedimentos.
Essa idéia soa estranha muitas vezes, pois a impressão que temos é que o que requer estudo são os textos que tratam de conceitos, temas relevantes, assuntos complicados. Mas textos instrucionais como os módulos e unidades que compõem o Parâmetros em Ação e o Programa de Formação de Professores Alfabetizadores exigem estudo também: se queremos,muito mais do que uma idéia geral do que está indicado no texto, ter clareza sobre o encadeamento das ações propostas, a lógica da seqüenciação das atividades, as intenções subjacentes, os conteúdos implícitos,é preciso acionar nossa capacidade de análise e de fato estudá-lo.
Os relatos a seguir enfatizam a importância do estudo em diferentes situações, tanto no caso da formação de professores como de formadores. No final, há um instrumento de orientação de estudo que pode servir de referência para a elaboração de outros que atendam a diferentes necessidades de formação.
Uma das maiores dificuldades que os formadores enfrentam, segundo eles, é o fato de os professores não lerem os textos de aprofundamento. Na verdade, a prática de leitura para atualização e aprofundamento teórico é ainda restrita entre os educadores... Por isso, tenho sugerido que os formadores façam um trabalho de sedução para a leitura dos textos recomendados aos professores,comentando o que vão encontrar, o tempo aproximado que gastarão para ler,a linguagem, a relação entre o conteúdo abordado e o que está sendo tratado no grupo, a relação com a prática de sala de aula... enfim, as vantagens de ler o texto, o que com isso "se ganha" do ponto de vista profissional. Solicitar que os educadores leiam um texto e que façam uso das informações nele contidas para analisar uma situação proposta ou para realizar uma atividade em que essas informações são imprescindíveis tem se mostrado também muito útil e enriquecido as discussões sobre os conteúdos dos textos. Outra sugestão é propor a leitura acompanhada de uma orientação de estudo. Esse procedimento faz toda diferença, porque uma coisa é ler o texto, outra, bem diferente, é estudá-lo.
Rosa Maria Antunes de Barros





Em vários grupos apresentei, indiquei e sugeri leitura de livros que contribuem tanto para o desenvolvimento profissional como pessoal. Os participantes anotavam as referências, mas me ficava uma questão que, de alguma forma,percebia como preocupação do grupo: o que ler primeiro, por onde começar a ler? Mesmo quando indicava a leitura de um ou mais livros para aprofundar um tema, ainda persistia essa questão para mim. E essa preocupação se mostrou real ao observar os grupos estudando para desenvolver o Parâmetros em Ação com os professores: as indicações, quando muito amplas, não os Educadores estudam e discutem o conteúdo dos Parâmetros ajudavam. Procurei então indicar a leitura de capítulos específicos, às vezes até de trechos desses capítulos, tanto dos Parâmetros Curriculares como do material bibliográfico complementar.
Marília Novaes





Nas simulações, os grupos, em sua maioria, se empenharam bastante em utilizar as estratégias metodológicas propostas e em lançar questões problematizadoras aos educadores, muitas vezes gerando uma tempestade de idéias que fugia do objetivo proposto na atividade. Na auto-avaliação, após o término da atividade de simulação, muitos declararam não ser fácil intervir adequadamente no momento certo e acabaram explicitando que não estavam seguros para exercer a função de coordenador de grupo. Nesse momento, compartilhei com eles que também não achava fácil essa função, mas que tinha plena convicção de que era possível para eles, que só aprendemos a fazer formação de professores acreditando, estudando, e principalmente fazendo. Sugeri listarmos algumas decisões que eles deveriam tomar e que poderiam ajudá-los a sentir mais segurança como formadores. Foi um momento muito significativo, pois a partir dessa listagem estabeleceram combinados de realizar encontros para que houvesse maior intercâmbio entre eles, referente tanto aos conhecimentos que já tinham quanto aos que certamente iriam adquirir com os estudos que precisariam realizar daí por diante.
Deane Rodrigues





Ao reencontrar os coordenadores após o evento de formação, percebi que estavam animados com o Programa, dispostos a enfrentar os desafios, mas sem saber como encaminhar o estudo, por onde começar a se preparar, o que ler primeiro... em resumo, como estudar para ser um coordenador de grupo de professores.
Com essas observações, planejei uma pauta de trabalho em que pudesse inserir a discussão desses procedimentos, auxiliada por uma melhor compreensão da concepção de formação de professores:
• Abordar as atividades de forma que a finalidade, a expectativa de aprendizagem, o conteúdo e as estratégias metodológicas se tornem mais observáveis e compreensíveis, após seu desenvolvimento
• Indicar leituras complementares nos PCN, ler com os participantes e, na indicação de livros, especificar o capítulo e explorar em quais questões devem se aprofundar.
• Explicitar com o grupo quais questões, nas atividades desenvolvidas, seriam de maior dificuldades para os professores ou para eles e ajudá-los a pensar sobre elas.
• Problematizar as atividades, sugerindo outra abordagem e discutir a concepção de formação que perpassa as escolhas de reorganização.
• Abordar as colocações dos participantes sobre os conteúdos a partir da concepção de ensino e de aprendizagem que possuem.
• Indicar o "caminho" pelo qual abordar o material, visando a própria formação como coordenadores de grupos.
Marília Novaes





Depois das discussões anteriores, foi possível para o grupo compreender melhor as atividades de leitura apresentadas no programa "Pensando se aprende..." e rediscutir os procedimentos de leitura que os alunos utilizam para ler quando ainda não sabem ler. Sinto que ainda não é claro para as pessoas que se aprende a ler assim mesmo – lendo – e, conseqüentemente fica difícil entenderem as propostas de alfabetização apoiadas nesse pressuposto. O nível de conhecimento do grupo a respeito dos conteúdos previstos no Módulo de Alfabetização é ainda pequeno: há um longo caminho a percorrer. Certamente os futuros coordenadores de grupo precisarão de muita ajuda. É preciso que se organizem num grupo de estudo, e terão bastante trabalho pela frente.
Márcia Gianvechio





Para sistematizar as discussões realizadas até então, tenho proposto algumas questões para reflexão do grupo: Será que o professor modelo de leitor e escritor + alunos resolvendo bons problemas (difíceis porém possíveis), pode resultar em aprendizagem?
• Será possível, ao longo dos 200 dias letivos, se propor:
• que o professor leia 200 textos;
• que o professor escreva 200 textos;
• que os alunos leiam 200 textos;
• que os alunos escrevam 200 textos?
• "De onde tirar" esses textos? Quais são os mais adequados para que o professor leia e para que os alunos leiam?
Respostas para essas perguntas são encontradas:
• Nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. • No texto "Por trás do que se faz", publicado em Cadernos da TV Escola – Português, vol. 1 (p. 26) e transcrito no Módulo de 1ª- a 4ª- série do Parâmetros em Ação (p. 88).
Com 800 situações planejadas será possível então alfabetizar os alunos?
E como poderá ser a qualidade dessa alfabetização?
As conclusões a que o grupo chega são animadoras e, nesse sentido, tem ajudado muito mostrar as relações entre os PCN, os Módulos do Parâmetros em Ação e outros materiais conhecidos. É muito importante ajudar o grupo a selecionar, entre as fontes disponíveis, o que é mais relevante para responder a suas necessidades mais imediatas.
O desafio que se coloca é: como garantir que todos continuem estudando?
Afinal, o Encontro do Parâmetros em Ação é só uma apresentação geral do Programa...
Eliane Mingues





Procuramos trazer para as discussões semanais, entre os coordenadores das escolas o estudo de conteúdos que vão além dos propostos nos módulos do Parâmetros em Ação: o objetivo é oferecer melhores condições para que eles conduzam adequadamente o trabalho de formação nas escolas.
Rosa Maria Monsanto Glória





Depois das discussões anteriores, foi possível para o grupo compreender melhor as atividades de leitura apresentadas no programa "Pensando se aprende..." e rediscutir os procedimentos de leitura que os alunos utilizam para ler quando ainda não sabem ler. Sinto que ainda não é claro para as pessoas que se aprende a ler assim mesmo – lendo – e, conseqüentemente fica difícil entenderem as propostas de alfabetização apoiadas nesse pressuposto. O nível de conhecimento do grupo a respeito dos conteúdos previstos no Módulo de Alfabetização é ainda pequeno: há um longo caminho a percorrer. Certamente os futuros coordenadores de grupo precisarão de muita ajuda. É preciso que se organizem num grupo de estudo, e terão bastante trabalho pela frente.
Márcia Gianvechio





Para sistematizar as discussões realizadas até então, tenho proposto algumas questões para reflexão do grupo:
Será que o professor modelo de leitor e escritor + alunos resolvendo bons problemas (difíceis porém possíveis), pode resultar em aprendizagem?
• Será possível, ao longo dos 200 dias letivos, se propor:
• que o professor leia 200 textos;
• que o professor escreva 200 textos;
• que os alunos leiam 200 textos;
• que os alunos escrevam 200 textos?
• "De onde tirar" esses textos? Quais são os mais adequados para que o professor leia e para que os alunos leiam?




Respostas para essas perguntas são encontradas:
• Nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa.



• No texto "Por trás do que se faz", publicado em Cadernos da TV Escola – Português, vol. 1 (p. 26) e transcrito no Módulo de 1ª- a 4ª- série d Parâmetro em Ação (p. 88).




Com 800 situações planejadas será possível então alfabetizar os alunos?
E como poderá ser a qualidade dessa alfabetização?
As conclusões a que o grupo chega são animadoras e, nesse sentido, tem ajudado muito mostrar as relações entre os PCN, os Módulos do Parâmetros em Ação e outros materiais conhecidos. É muito importante ajudar o grupo a selecionar, entre as fontes disponíveis, o que é mais relevante para responder a suas necessidades mais imediatas.
O desafio que se coloca é: como garantir que todos continuem estudando?
Afinal, o Encontro do Parâmetros em Ação é só uma apresentação geral do Programa...
Eliane Mingues





Procuramos trazer para as discussões semanais, entre os coordenadores das escolas o estudo de conteúdos que vão além dos propostos nos módulos do Parâmetros em Ação: o objetivo é oferecer melhores condições para que eles conduzam adequadamente o trabalho de formação nas escolas.
Rosa Maria Monsanto Glória





Plano de Estudo Prévio do Módulo Alfabetizar com textos/Parâmetros em Ação - um exemplo -
Sistematizado por Marília Novaes e Rosaura Soligo.




Estudar os módulos do Parâmetros em Ação como formador requer procedimentos próprios, diferentes daqueles de estudar para dar aula, ou mesmo para resolver dúvidas pessoais.
É um estudo a serviço da prática de formador (coordenador geral e de grupo) que tem dois âmbitos – o das estratégias metodológicas e o do conteúdo – que podem ser abordados de duas formas: num processo progressivo (pessoal e de grupo) de estudo e nas simulações de atividades propostas no módulo.
Estudar o módulo "todo", antes de desenvolvê-lo com o professor, propicia uma melhor compreensão dos principais conteúdos abordados e potencializa a ação do formador no trabalho com os grupos.





Sugestões de estudo
1. Leitura individual de todo o módulo (antes da reunião) para compreender sua organização e detectar as grandes dúvidas.
2. Leitura individual aprofundada da seqüência de atividades, a ser estudada na reunião com os demais formadores, com anotação das dúvidas e questões a serem discutidas.
3. Leitura individual de outros materiais que poderiam auxiliar acompreensão de questões importantes tratadas na seqüência de atividades a ser discutida no grupo.
4. Desenvolvimento da seqüência de atividades no grupo, identificando as estratégias metodológicas e o conteúdo e antecipando pontos que eventualmente representarão dúvidas para os professores.É importante procurar desenvolver as atividades da forma mais semelhante possível à que ocorrerá no grupo de professores (uma idéia seriacada coordenador geral ou de grupo se preparar para realizar a simulação de uma ou mais atividades da seqüência estudada e o grupo identificar suas dúvidas e dificuldades, discutir a realização e a necessidade de mudanças ou ampliações, compartilhar o que sabem para ampliar a compreensão de todos).
5. Levantamento de outros textos, materiais que poderiam ampliar a discussão do conteúdo. No caso do Módulo "Alfabetizar com textos", alguns exemplos são os seguintes:
• Na seqüência 1, Atividade 2, o livro Meu professor inesquecível, de Fanny Abramovich, ou qualquer outro material que trate do tema.
• Na seqüência 1,Atividade 3, o texto "Alfabetização total", de Gordon Wells, e o capítulo 3 ("O ensino da leitura") do livro Estratégias de leitura, de Isabel Solé.
• Para a seqüência 2, ler outros materiais que discutam o que as crianças pensam e sabem sobre a escrita e o capítulo 4 ("O ensino de estratégias de compreensão leitora") do livro Estratégias de leitura, de Isabel Solé.
• Para a seqüência 3, pensar em propor aos professores querealizem uma avaliação diagnóstica do conhecimento dos alunos sobre a escrita e planejar um espaço no grupo para discutir sua realização, o desempenho dos alunos, as dificuldades de análise do professor e os encaminhamentos.
• Para a seqüência 4, leitura do capítulo 1 ("O desafio da leitura") do livro Estratégias de leitura, de Isabel Solé.
Projeto pessoal de estudo para aprofundar os conhecimentos sobre alfabetização
Leituras indicadas
• O diálogo entre ensino e aprendizagem, de Telma Weisz, Editora Ática.
• Psicopedagogia da linguagem escrita, de Ana Teberosky, Editora Vozes.
• Ler e escrever um grande prazer, de Beatriz Cardoso, Editora Ática.

Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Guia de Orientações Metodológicas Gerais. 2001. p. 125 a 130.